domingo, 9 de junho de 2013

Seleção luta, vence e quebra escritas - mas sem encantar

Foto: Ivan Pacheco/Veja
Foi na base da vontade e da dedicação, mas o Brasil enfim voltou a vencer uma grande seleção do futebol internacional neste domingo, na Arena do Grêmio, em Porto Alegre. Mesmo sem brilhar na parte técnica, a seleção de Luiz Felipe Scolari fez 3 a 0 na França (gols de Oscar, Hernanes e Lucas) no último amistoso antes da Copa das Confederações, pegou embalo para o torneio e encerrou um jejum que já durava quase quatro anos - o último triunfo sobre uma das campeãs do mundo tinha acontecido em novembro de 2009. De quebra, ainda acabou com outra escrita: não derrotava os franceses havia mais de duas décadas. A seleção mostrou um futebol pouco inspirado mas bastante aplicado taticamente. Em relação ao amistoso anterior, no Rio, com a Inglaterra, o time mostrou mais entrosamento, mas menos momentos de criatividade. A próxima partida da seleção já é um compromisso oficial: a abertura da Copa das Confederações, contra o Japão, em Brasília. Antes de chegar à capital federal, o grupo retorna a Goiânia para mais uma semana quase cheia de treinamentos. Na véspera da partida, a equipe faz o reconhecimento do gramado do Estádio Nacional, onde inicia sua tentativa de conquistar o tetracampeonato do torneio preparatório para a Copa do Mundo.

Aplicação - Depois de ensaiar uma marcação sob pressão durante a semana, nos treinos em Goiânia, Felipão testou esse cerco à saída de bola do adversário logo no começo da partida - com menos de um minuto, Neymar já roubava a bola do goleiro Lloris e quase criava uma boa chance de gol. O Brasil tomou a iniciativa e tentou ditar o ritmo da partida, mas a França não se acuou, buscando o ataque com velocidade sempre que recuperava a bola. Aos 16 minutos, Neymar sofreu falta na entrada da área após ser lançado por Thiago Silva. Na cobrança, o próprio Neymar parou na barreira. Aos 19, Hulk, sempre muito esforçado, arriscou de longe, sem perigo. Mesmo sem exibir o futebol que se esperava do time, a seleção brigava muito a cada bola dividida - apesar de ser um amistoso, a partida teve muitos lances duros. Outro aspecto que chamou atenção dos torcedores foi a atuação de Neymar. Se na partida contra a Inglaterra ele experimentou um novo posicionamento, mais centralizado, neste domingo o jovem craque voltou a atuar quase sempre pelo lado esquerdo.

O camisa 10 pediu bastante a bola, arriscou jogadas de efeito e ajudou na marcação, mas teve dificuldade para superar os defensores franceses, em especial o lateral direito Debuchy. Coube ao contestado Hulk, aos 27 minutos, criar uma boa oportunidade: ele desceu pela direita e cruzou; no corte, a defesa visitante quase marcou contra. Aos 30, Oscar fintou pela direita e achou Neymar chegando na pequena área. Pressionado por um zagueiro francês, o camisa 10 do Brasil acabou desviando para fora. A próxima grande chance só veio aos 41, quando Daniel Alves cruzou da direita e Fred cabeceou com perigo. No minuto seguinte, Marcelo recebeu sozinho no bico da área, mas errou o cruzamento. O último lance de perigo da etapa inicial foi do próprio Marcelo, que bateu rasteiro em diagonal. Neymar se esticou todo mas não conseguiu empurrar a bola para a rede. O torcedor gaúcho reconheceu o esforço da equipe, aplaudindo os jogadores na descida aos vestiários. No entanto, parecia faltar inspiração ao time de Felipão na Arena do Grêmio.

Alívio - A seleção voltou para o segundo tempo sem alterações e com um futebol ainda mais opaco do que na primeira etapa. Depois de dois chutes perigosos da França, a torcida começou a pedir a entrada de Lucas a partir dos 5 minutos. Para alívio de Felipão, Oscar abriu o placar aos 8 minutos, finalizando com categoria depois de receber bela assistência de Fred. Menos pressionada, a equipe se soltou: aos 10 minutos, quase ampliou o placar, mais uma vez com o ex-meia do Internacional. Aos 14, um susto: David Luiz cortou um cruzamento quase marcou contra - Júlio César mostrou bom reflexo. Aos 16, Neymar arrancou da intermediária, driblou e bateu por cobertura, errando a meta defendida por Lloris. Felipão decidiu atender aos pedidos do público e chamou Lucas e Fernando, que substituíram Oscar e Hulk. Agora jogando com três zagueiros - uma tentativa de minimizar os riscos, dar mais consistência ao meio e segurar a vitória -, o Brasil criou mais uma boa chance aos 19, com Fred, que exigiu ótima intervenção de Lloris.

Aos 25 minutos, Jô, o último a se juntar ao grupo, entrou em campo no lugar de Fred. O atacante do Atlético-MG substituiu o colorado Leandro Damião, cortado por contusão. Bastante desgastada, a seleção francesa trocou várias peças importantes - incluindo o craque do time, Benzema, numa tarde apagada - e contribuiu para que a partida ficasse mais morna. Jogando bem ao gosto de seu técnico, de forma pragmática e sem grandes ousadias, o Brasil tentou manter o jogo sob controle preservando a posse de bola no ataque. Aos 35 minutos, Felipão trocou mais uma peça da equipe, colocando Hernanes no lugar de Luiz Gustavo - mais uma opção que poderia ajudar a seleção a ficar mais tempo com a bola. E foi justamente Hernanes que, aos 39 minutos, selou a vitória brasileira, chutando de perna esquerda, no canto, depois de triangulação com Lucas e Neymar. O volante, que perdeu espaço na seleção depois de ser expulso num amistoso com a mesma França, vem entrando bem nos amistosos e pode ser uma ameaça à titularidade de Paulinho. Nos minutos finais, Neymar deu lugar a Bernard, fechando mais uma aparição pouco empolgante do craque com a camisa da seleção. Já nos acréscimos, com a França esgotada fisicamente, Marcelo sofreu pênalti. Lucas bateu bem, no canto direito, e fechou o placar.

Incentivo - O Brasil vinha de uma série de sete partidas sem vitória contra seleções que já foram campeãs do mundo - e precisava de um bom resultado para chegar embalada à Copa das Confederações (a estreia é no próximo sábado). A seleção jogou diante de uma arena quase lotada, com 51.919 pessoas (todos os ingressos foram vendidos, mas muitos ficaram nas mãos dos cambistas, que chegaram a pedir um valor quatro vezes maior que o valor original dos bilhetes). Como já era de se prever, a paixão pelo clube que emprestou sua casa à seleção falou mais alto: os gritos de "Grêmio" e incentivos a Fernando, único atleta de um clube gaúcho na partida, superaram os gritos de "Brasil" e os aplausos ao principal astro da equipe, Neymar (os xingamentos contra o narrador Galvão Bueno, da TV Globo, também foram frequentes antes do início do jogo). No anúncio da escalação do Brasil, o mais aplaudido não foi nenhum dos atletas, mas sim o técnico Felipão, um herói para os gremistas.

As camisas tricolores e coloradas apareciam em proporção quase igual à dos uniformes da seleção. Diversos outros clubes do Sul do país também foram representados nas arquibancadas, reforçando a impressão de que o torcedor brasileiro não se identifica tanto com a equipe nacional como no passado. Com a bola rolando, porém, a torcida tentou empurrar o time, vibrando principalmente nos lances em que a seleção exibia garra e aplicação, bem ao gosto do público local. Nas sete partidas desde que Felipão reassumiu o comando da seleção, o Brasil soma quatro empates, duas vitórias e uma derrota. O desempenho irregular lembra o início da primeira passagem de Scolari pelo cargo, a partir de 2001. Na ocasião, o treinador custou a encontrar sua formação ideal e só foi emplacar uma boa sequência de vitórias já na Copa do Mundo de 2002, em que a seleção conquistou o penta. O torcedor espera que a história se repita, mas continua um pouco desconfiado com a equipe a menos de uma semana do ensaio geral para o Mundial no Brasil.

Fonte: Veja

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